sábado, 22 de maio de 2010

Testemunho ao vento

Às vezes acho que no alto da minha avançada idade tenho um minuto de reflexão para ser só um pouco egoísta, e digo de antemão que realmente não gostaria que o mundo melhorasse


Tenho em mim toda a carga de uma vida farta de adaptações

E em mim jazem sonhos perdidos socorros não dados, amores não vividos em um mundo que comigo sempre foi cruel, vazio, triste

Mas digo também que não acho nada disso feio ou horripilante, não digo que odeio os homens e todas aquelas coisas da nova époque de crianças tão ''conscientes''

Só que cansado não gostaria que o mundo melhorasse

Quero morrer em paz e descansar o meu corpo que por tanto tempo houve sempre de querer aprender a viver nesse mundo tão melodramaticamente cansativo

E digo isso também ressaltando que se esse mundo é assim, é para pessoas de genética mental como a minha que carregam em si o tão aclamado dom (ou maldição como prefiro recordar) da consciência

Que lutam dia a dia consigo mesmo afim de que a batalha os torne um pouco mais sofredores e conscientes
Conscientes de uma filosofia que nos imprima uma luz de entendimento

Mas o ponto importante é que em nosso caminho (de pessoas conscientes) a busca por essa tão aclamada filosofia nos tira tudo, da roupa a sanidade

Já fui por muito insano entre os sãos e não quero um mundo melhor para que mais uma vez eu tenha que suprir de minha parca sanidade o tempo que minha alma passa a se adaptar a vocês

Meus heróis pensadores se esvaíram em loucura e por muito eu achava que alguma glória devia trazer esta tão romântica via vital

Mas no alto da minha avançada idade peço-vos

Deixem o mundo se esvair em merda e esperem a partida deste velho cansado
Pois quero em minha cama morrer só de mim, e com falta de ar, que sai pela mesma porta por onde enxotei a esperança

Um comentário:

Lai disse...

esse texto lembrou-me do livro do chico. amargo e doce de ler.