segunda-feira, 11 de maio de 2009

Era o nada

E estava lá preso com olhos de gato e corpo de barata
Imaginando se assim poderia ver o futuro
Se poderia sobreviver a qualquer catástrofe mitológica
Mutava a cada segundo que passava e nunca resistia a isso
Morria a cada instante da sua vida a cada mutação desesperada
Olhava para traz e não reconhecia um passado
Não reconhecia um padrão, um sentimento
Não se reconhecia em meio aquela nuvem de coisas deixadas
Eu tentei salva-lo mas não era de salvação que ele precisava
Eu tentei jogar-lhe corda mas não subia, se enforcava
Tentei dar-lhe de beber para que sobrevivesse, mas se afogava e só
Não queria companhia muito menos a do seu passado
Eu era a cara do passado no espelho daquele cárcere em que agonizava
Não foi por nada que chegou ali
Um homem lhe roubou o troco e o entendimento, uma mulher lhe roubou o saldo e a esperança
O filho lhe roubou os sapatos e o chão, a esposa lhe roubou as luvas e o calor
O pai lhe roubou o chapéu e o rumo, a mãe lhe roubou o casaco e o carinho
Agora eu que sou o verbo no passado, entendo
Olho para o passado e vejo
Só lhe restava morrer só
Nada na vida o dava orgulho, mas uma coisa ele levava consigo
Deixou de existir antes de morrer, eliminou qualquer boato de sua existência
E deixou o mundo livre da descendência de seus genes de vitima
No final não era mais o pai, a mãe, o filho, a esposa, o homem e nem a mulher
Quando o fim enfim chegou ele teve seu momento. Descobriu realmente o que havia se tornado.
Era o nada